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quinta-feira, 20 de novembro de 2014

Únicas histórias


Eu percebi que pessoas como eu, meninas com a pele da cor de chocolate, cujos cabelos crespos não poderiam formar rabos-de-cavalo, também podiam existir na literatura. 

Essa fala foi dita pela escritora Chimamanda Ngozi Adichie no começo de sua palestra para a Ted, uma fundação privada sem fins lucrativos para disseminação de ideia, onde explica como o esteriótipo outorgado por uma cultura pode distorcer os fatos em outra, consequentemente a identidade das pessoas.

Chimamanda começou à escrever histórias aos sete anos giz de cera e muita leitura. Escrevia exatamente o que lia. Historias americanas ou britânicas que mostrava crianças com estilos americanos e britânicos de viver tirando pouco a pouco sua essência.

Eu comecei a escrever sobre coisas que eu reconhecia. Bem, eu amava aqueles livros americanos e britânicos que eu lia. Eles mexiam com a minha imaginação, me abriam novos mundos. Mas a conseqüência inesperada foi que eu não sabia que pessoas como eu podiam existir na literatura. Então o que a descoberta dos escritores africanos fez por mim foi: salvou-me de ter uma única história sobre o que os livros são.

Nasceu em Abba, mas cresceu em Nsukka, uma cidade universitária. Seu pai era professor e sua mãe administradora no mesmo local. Aos dezenove anos mudou-se para os Estados Unidos para cursar a universidade de Connecticut e acabou por surpreender-se ao chegar à mesma.

Minha colega de quarto americana ficou chocada comigo. Ela perguntou onde eu tinha aprendido a falar inglês tão bem e ficou confusa quando eu disse que, por acaso, a Nigéria tinha o inglês como sua língua oficial. Ela perguntou se podia ouvir o que ela chamou de minha "música tribal" e, consequentemente, ficou muito desapontada quando eu toquei minha fita da Mariah Carey.

 É claramente visível que a visão da colega de quarto de Chimamanda era um tanto estereotipada assim como a de qualquer pessoa que cresceu ouvindo das dificuldades da população africana de um modo geral. Como se o continente todo tivesse problemas, o continente todo fosse obsoleto e não possuísse nada além de garimpeiros de pedras preciosas em rios barrentos como mostra, especialmente, o filme Diamante de Sangue. E não, não estou exagerando.

O poder que os livros de historia, revistas de conhecimentos gerais, a mídia no geral tem para conosco é absurda. Fazem com que tenhamos acesso à informação que, posteriormente, força-nos a formar uma opinião e essa opinião pode, às vezes, colocar-nos em posicionamentos constrangedores.

Sua posição padrão para comigo, como uma africana, era um tipo de arrogância bem intencionada, piedade. Minha colega de quarto tinha uma única história sobre a África. Uma única história de catástrofe. Nessa única história não havia possibilidade de os africanos serem iguais a ela, de jeito nenhum. Nenhuma possibilidade de sentimentos mais complexos do que piedade. Nenhuma possibilidade de uma conexão como humanos iguais.

Um erro do ser humano - não generalizando, por favor - é achar que tudo o que está escrito é verdade, tirar suas conclusões nem sempre importando-se com os fatos - sim com o escrito -  e, assim, criar uma nova versão do ocorrido. Porque, segundo a escritora:

...é assim que se cria uma única história:
mostre um povo como uma coisa, como somente uma coisa, repetidamente, e será o que ele se tornará.

Bom, isso tudo foi para dizer - um pouco atrasada - que ontem hoje é dia 20 de novembro.

Consciência Negra.

Mas confesso que tudo escrito acima não foi especialmente para hoje - já que consciência, independente de etnia, é todos os dias. Esse post foi para mostrar, através de uma verdade, que ainda vivemos em um mundo separatista e sabemos disso. Em um mundo onde deixam claro que uma história depende do ponto de vista e que o estereótipo prevalece. Em pleno século XXI.

Há quem diga que temos o poder de mudar as coisas/pessoas ao nosso redor. E há quem diga que podemos mudar o mundo.

Por quê não?

Entretanto, para isso, devemos abrir-nos para novas experiencias, novas histórias, únicas histórias, porque:

...quando percebemos que nunca há apenas uma história sobre nenhum lugar, nós reconquistamos um tipo de paraíso.



Feliz dia da Consciência, amoras.
2 beijos,
Tchau e tchau-tchau.

2 comentários:

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